A Unesco declarou o chamamé patrimônio imaterial da humanidade nesta quarta-feira (16). A manifestação artística tem origem argentina e é muito popular na região de Corrientes, no país vizinho.  

Para a Unesco, entre as principais características do chamamé, "está uma dança que seus intérpretes se movem fortemente, além de eventos festivos chamados 'musiqueadas', 'invitadas', 'plegarias' e o sapucai, um grito peculiar lançado com um movimento do corpo que expressa emoções e sentimentos profundos de alegria, tristeza, dor ou coragem".
No sul do Brasil, o chamamé também se popularizou, sendo um dos gêneros musicais mais badalados em festivais e fandangos. Canto Alegretense, Veterano e Batendo Água são alguns exemplos de chamamés gaúchos que se tornaram clássicos da música regional.

Um dos principais divulgadores do ritmo no Brasil é o músico Luiz Carlos Borges. Aos cinco anos, na região das Missões, ele ficou encantado pelas canções das rádios argentinas, que seu pai costumava ouvir. Ainda na infância, com seis ou sete anos, começou a perseguir as melodias no acordeom.

Borges conta que, ao longo de sua trajetória, precisou lidar com preconceitos e resistências em relação ao gênero musical no RS.

— Entre meus 15 e 30 anos, enfrentei muita proibição para tocar o que estivesse fora do conceito do que era considerado música gaúcha. Tinha patrão de CTG que dizia: "Se tocar música que vem do outro lado do Rio Uruguai, não tem mais contrato". Mas nunca desisti do chamamé. Fui enfrentando. Trazendo a musicalidade aos poucos — lembrou Borges em entrevista ao programa Gaúcha+.
Não eram apenas alguns patrões de CTG que censuravam o ritmo. Por não ser origem gaúcha, o chamamé passou anos proibido em muitos festivais de música regional. Aos poucos, os organizadores aceitaram que o gênero já havia tomado características próprias no Brasil.

O violonista Yamandu Costa considera, inclusive, que não há apenas um chamamé brasileiro, mas uma multiplicidade de variações nacionais.

— No Sul, temos o chamamé fronteiriço, da região missioneira, de onde vem o Luiz Carlos Borges, e um chamamé mais serrano. Já no Mato Grosso, há o rasqueado, do grande mestre Dino Rocha, que infelizmente morreu no ano passado. Temos também o chamamé pantaneiro, e o que chega no interior de São Paulo e se funde à música sertaneja — exemplifica Yamandu.

De Portugal, Yamandu comemorou o reconhecimento da Unesco divulgando em seu canal do YouTube um vídeo gravado anos antes, ao lado de Luiz Carlos Borges.

— O chamamé é o jazz do futuro. As melodias são lindas, a rítmica é muito bonita e é circunferencial. É um ritmo ternário, que vira seis por oito, o que ajuda a dar esse sentido de circunferência. Ele parece que está na água, sempre arrodeando — afirmou Borges, em entrevista a GaúchaZH. 


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