Produzido com recursos da Lei Aldir Blanc, o documentário Um Mar de Danças - Cartografias do Litoral Norte apresenta histórias de 35 grupos e escolas de dança da região e traz relatos dos desafios do setor em meio à pandemia de Covid-19. Contemplado no edital nº 09/2020 (Produções Culturais e Artísticas) da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), o trabalho tem lançamento agendado para às 17h deste sábado (15). A transmissão ocorrerá no canal do Youtube e na página do Facebook do Núcleo de Imagem e Dança de Imbé (Nidi).  

O documentário também conta com uma versão acessível, com audiodescrição (AD), legendas para surdos e ensurdecidos (LSE) e janela de Libras (JL). Os registros resgatam desde a brincadeira popular do Boizinho da Praia, em Cidreira, até a tradição que remete ao período colonial do Maçambique de Osório, passando por um centro de excelência em balé, que exporta talentos em Santo Antônio da Patrulha. As sementes plantadas e cultivadas há 30 anos em Torres e as iniciativas que estão começando a mudar a cena em Imbé também ganham corpo no documentário, que ainda mostra a importância da dança como projeto social no município de Tavares.

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Mas não para por aí: o filme apresenta outras escolas de balé, invernadas artísticas, grupos de kpop, dança aérea, dança de salão, de jazz, danças urbanas/hip hop, danças ciganas, danças árabes, entre outras. Neste contexto, os expectadores irão conferir ainda a vitalidade da dança na maturidade e a potência criadora e formativa das invernas artísticas dos CTGs e piquetes que cultivam a arte em Xangri-lá e Balneário Pinhal, bem como a adesão de jovens de Capão da Canoa e Tramandaí a projetos dançantes em ambos os municípios, entre outras ações do setor. 

"A proposta inicial era de mapear 20 grupos, mas o projeto conseguiu identificar mais de 70 coletivos em atividade" destaca a bailarina Tati Missel, coordenadora geral e artística do documentário. "Chegamos a agendar com 45 grupos, mas em função da pandemia teve gente que não pode participar. De qualquer forma, contemplamos quase o dobro do previsto, tem muita diversidade", pondera.

Tati, que também é uma das idealizadoras do projeto, conta que as gravações ocorreram de 18 a 24 de fevereiro. "Foi uma maratona de filmagens, percorremos sete praias, captando depoimentos e imagens do nascer do sol até a noite." Ao todo, foram três meses de planejamento e execução, pondera o também coordenador geral e artístico, Marcelo Cabrera. Após o levantamento dos grupos, e as gravações, o trabalho seguiu por mais um mês para a edição e finalização do documentário. "Inicialmente teria 30 minutos, mas devido à riqueza de material foi finalizado com 58 minutos", comenta Cabrera.

As locações aconteceram em Cidreira, Tramandaí, Imbé, Osório, Santo Antônio da Patrulha, Capão da Canoa e Torres, com cerca de 155 profissionais da Cultura, "respeitando os protocolos de segurança" para evitar a disseminação da Covid-19, ressalta Tati Missel. Ela observa que o Litoral Norte, apesar de reconhecido por ser um destino turístico do verão, e atrair muitos shows, não tem a mesma visibilidade quando o assunto é produção cultural, principalmente no que se refere à dança.

"No Litoral há pouquíssimos espaços que se aproximam de teatro, com coxia e palco, e muitos dos que existiam estão interditados por falta de manutenção, então não há nem locais adequados para apresentações", comenta Tati. Ela observa que, em um cenário como este, o projeto não só incentivou a profissionalização de agentes culturais com a seleção e contratação de produtores locais que colaboraram na execução do mapeamento e gravações, como também promoveu um encontro dos profissionais da dança da região para unirem forças em prol de uma maior valorização do segmento.

"No momento que vem a pandemia e que precisamos parar de dar aulas, fechar estúdios e não tem como produzir espetáculos, começamos a nos enxergar mais como um setor cultural, porque a dinâmica no Litoral antigamente era mais individualista e de muita competitividade", avalia Tati. Cabrera concorda que o documentário serviu para "permitir o conhecimento das realidades de cada um e conectar toda essa produção".

"Foi uma descoberta de muitas coisas e aproximação de outras que já tínhamos ouvido falar, mas nunca tínhamos vivenciado", resume o coreógrafo, jornalista, professor, pesquisador e doutor em Educação, Airton Tomazzoni, analisando a diversidade da produção cultural do segmento nos municípios praianos. Tomazzoni  participou do projeto como colaborador voluntário, ao lado da bailarina e também pesquisadora e doutora em Educação, Luciana Paludo.

"Nos surpreendeu o potencial criativo dos CTGs, e a atualidade das discussões que ocorrem nestes locais: eles estão falando de temas como racismo, homofobia, inclusão, e pluralidade cultural", observa Tomazzoni. 

"A grande descoberta é de como muitos fazem da dificuldade sua potencialidade, de como enfrentam condições adversas muitas vezes e mesmo assim consolidaram trajetórias tão marcantes e infelizmente, em muitos casos, pouco conhecidas, pouco reconhecidas e pouco valorizadas em nosso Estado", conclui Marcelo Cabrera, fundador do Nidi.

Todas estas questões e outras que reverberarem após a transmissão do documentário, serão objeto de um debate mediado pelos pesquisadores (Tomazzoni e Luciana) no sábado do dia 22 de maio. A dupla de consultores voluntários do projeto irá conversar com as graduadas em dança Laura Bauermann, Rossana Scorza, e Dreis Souza. O bate papo também será transmitido pelas redes sociais do Nidi.

Fonte: Adriana Lampert/Jornal do Comércio
Foto: Marcelo Cabrera/Divulgação JC